quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

Noah

Noah é o único humano vivo numa ilha onde universos paralelos se encontram! Onde ele deve descobrir civilizações alienígenas, templos arruinados, relíquias, artefatos, perigos, armadilhas e ainda manter o estilo e a elegância! Um híbrido de Indiana Jones, Jack Shepard e James Bond.

Segundo o autor do documento original, um dos aspectos únicos de ONE é a ausência de personagens na história. Isso deveria funcionar como um "internalizador" da experiência de jogo, fazendo com que o jogador se identificasse com Noah, como figura solitária explorando um mundo desabitado! Noah é descrito como um homem branco, de 35 anos, 6ft. de altura (mais ou menos 1.80m), vestido com calças e colete khaki, camisa de algodão com as mangas dobradas, gravata de lã e sapatos! Não é por nada não, mas num se pode explorar mundos alienígenas de gravata, colete e sapatinho!!! Nem o James Bond faria isso...

Fiz o primeiro conceito baseado numa imagem de referência do documento; o segundo foi feito de acordo com o que eu imaginava que seria aceitável prum explorador... mas na verdade eu tinha esquecido dum detalhe importante: Noah é um psicológo infantil e não o Survivorman!

O primeiro Noah.

"Elephant Cowboy" Noah: O Noah que foi rejeitado porque, segundo os produtores, ele parecia estar pronto pra "pular de um Land Rover e paletar um elefante"!


No mundo dos games e filmes de aventura, ainda que alguns tentem manter algum vínculo com a realidade, nunca levam em consideração o trabalho de certos profissionais! O arqueólogo é um dos mais zoados!

Pra que usar um sujeito que estudou durante anos sobre culturas e línguas desaparecidas, sobre como remover e identificar um artefato escavado, quando se pode usar um sujeito qualquer, com uma habilidade aleatória pra fazer isso!? Pra que usar as ferramentas adequadas ao ofício, ou no mínimo, delicadas o suficiente pra que não danifique ou altere demais o objeto da escavação quando se pode explodir tudo com dinamite?! Pra que usar um arqueólogo ou algo que o valha, quando se pode usar um psicólogo?!

Noah. Versão aprovada.

O terceiro conceito para o Noah deveria apresentar um sujeito mais delicado, com traços mais finos e com um colete mais "cinturado". Um Johnny Depp andrógino! Foi aprovado na hora...

A justificativa é simples: Nada pode ser agressivo em um casual game! Não se pode ter sangue, nem violência; não se pode ter uma entidade cósmica mais velha que o tempo, toda craquenta e cheia de pontas nem um arqueólogo com roupas de explorador e cara de homem... é mais ou menos o "pacote de realidade" do Crepúsculo: Vampiros e lobisomens andróginos e depilados, com barriguinha malhada, que brigam de tapa (pra num machucar), não falam palavrão, não são agressivos, não matam e não bebem sangue!!!

Agora, por que um psicólogo infantil? Porque a tartaruga cósmica é um ser antiqüíssimo, primitivo e só se comunica com Noah por imagens e através de sonhos!!! Vai entender!

segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

Comecei a trabalhar com o ONE no dia 12 de maio de 2009. Minha primeira experiência como concept artist para videogames. Embora não fizesse a menor idéia sobre como funciona o mercado de casual games, a proposta era muito interessante: Um SIM game com elementos de Adventure! Um simulador, um RTS ou algo parecido com o The Sims na ilha de Lost.

No documento original, a trama básica era descrita assim: "O jogo acontece numa praia aparentemente deserta no Pacífico Sul onde o jogador pode acompanhar as aventuras do náufrago Noah enquanto tenta voltar para casa. Durante o jogo, o jogador descobre que a ilha é uma encruzilhada de sete mundos diferentes que se tornaram misteriosamente sobrepostos! Como resultado, os habitantes desses mundos desapareceram - presos numa espécie de limbo até que o jogador possa salvá-los.
Para conseguir reestabelecer a harmonia da ilha com os mundos sobrepostos, o jogador deve reconstruir cada cidade destruída em cada um dos sete mundos e então conduzir a ilha de volta a seu lugar no Rio do Tempo".

Uma das coisas que foi apontada como diferencial do jogo era a ausência de NPCs, ou Non-Player Characters! Mundos completamente vazios!!! ONE é um working title, um nome para o projeto, enquanto a equipe de marketing não inventa um nome "sensacional"... Como Noah é o único humano vivo nessa ilha-encruzilhada, escolheram ONE. Genialidade e originalidade, definitivamente, não fazem parte desse mundinho B dos games!

Mas apesar do nome ONE, Noah não é a única personagem do jogo. Shenda-lit, uma criatura descrita como "based heavily on Ooogway, from Pixar's Kung-fu Panda, but not an exact copy", acabou sendo descrita num adendo ao documento original como uma criatura maior, meio parecida com a tartaruga do Discworld, de Terry Pratchett. E essa foi a primeira coisa que eu quis desenhar!

Shenda-lit (um anagrama genial de The Island), acabou sendo descrita posteriormente como "entidade cósmica", porque foi o que eu escrevi no título da prancha. Entidade cósmica passa aquela idéia de imensidão e poder, tipo o Galactus ou um dos New Gods. Mas na verdade, o termo foi usado porque eu achei a idéia de usar uma tartaruga gigante muito Jaspion!

Uma Gamera! Um tartarugão cósmico gigante, mais velho que o próprio tempo, responsável pelo fluxo do Rio do Tempo (uma alegoria para o fluxo da realidade, segundo o autor). Na verdade, depois de algum tempo, fui percebendo que o que eles queriam era mesmo a figura de um Oogway, ou melhor, de um Mestre Yoda. Na época, a equipe de design ainda não tinha ouvido falar em Joseph Campbell ou no Ciclo do Herói, talvez por isso a dificuldade em perceber a importância do papel do velho na trama!

Como esses sete mundos sobrepostos estavam na ilha, e a ilha é a tartaruga com os mundos nas costas (por isso ela se chama Shenda-Lit), pensei num bichão de escala "cósmica", craquento, com montanhas nas costas, voando pelo espaço, controlando o tempo... Na verdade escrevi depois um plot muito melhor pra Dona Shenda-lit!



Na época, eu era o único artista no projeto, além do Frank, que era o Diretor de Arte. Essa colorização foi uma das minhas primeiras experiências com tablet e com cor digital e teve a mão milagrosa do Charles, que me ajudou muito nesse e em vários outros projetos! O Charles nem sabia, mas ainda viria a ser muito importante no ONE!