segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

Comecei a trabalhar com o ONE no dia 12 de maio de 2009. Minha primeira experiência como concept artist para videogames. Embora não fizesse a menor idéia sobre como funciona o mercado de casual games, a proposta era muito interessante: Um SIM game com elementos de Adventure! Um simulador, um RTS ou algo parecido com o The Sims na ilha de Lost.

No documento original, a trama básica era descrita assim: "O jogo acontece numa praia aparentemente deserta no Pacífico Sul onde o jogador pode acompanhar as aventuras do náufrago Noah enquanto tenta voltar para casa. Durante o jogo, o jogador descobre que a ilha é uma encruzilhada de sete mundos diferentes que se tornaram misteriosamente sobrepostos! Como resultado, os habitantes desses mundos desapareceram - presos numa espécie de limbo até que o jogador possa salvá-los.
Para conseguir reestabelecer a harmonia da ilha com os mundos sobrepostos, o jogador deve reconstruir cada cidade destruída em cada um dos sete mundos e então conduzir a ilha de volta a seu lugar no Rio do Tempo".

Uma das coisas que foi apontada como diferencial do jogo era a ausência de NPCs, ou Non-Player Characters! Mundos completamente vazios!!! ONE é um working title, um nome para o projeto, enquanto a equipe de marketing não inventa um nome "sensacional"... Como Noah é o único humano vivo nessa ilha-encruzilhada, escolheram ONE. Genialidade e originalidade, definitivamente, não fazem parte desse mundinho B dos games!

Mas apesar do nome ONE, Noah não é a única personagem do jogo. Shenda-lit, uma criatura descrita como "based heavily on Ooogway, from Pixar's Kung-fu Panda, but not an exact copy", acabou sendo descrita num adendo ao documento original como uma criatura maior, meio parecida com a tartaruga do Discworld, de Terry Pratchett. E essa foi a primeira coisa que eu quis desenhar!

Shenda-lit (um anagrama genial de The Island), acabou sendo descrita posteriormente como "entidade cósmica", porque foi o que eu escrevi no título da prancha. Entidade cósmica passa aquela idéia de imensidão e poder, tipo o Galactus ou um dos New Gods. Mas na verdade, o termo foi usado porque eu achei a idéia de usar uma tartaruga gigante muito Jaspion!

Uma Gamera! Um tartarugão cósmico gigante, mais velho que o próprio tempo, responsável pelo fluxo do Rio do Tempo (uma alegoria para o fluxo da realidade, segundo o autor). Na verdade, depois de algum tempo, fui percebendo que o que eles queriam era mesmo a figura de um Oogway, ou melhor, de um Mestre Yoda. Na época, a equipe de design ainda não tinha ouvido falar em Joseph Campbell ou no Ciclo do Herói, talvez por isso a dificuldade em perceber a importância do papel do velho na trama!

Como esses sete mundos sobrepostos estavam na ilha, e a ilha é a tartaruga com os mundos nas costas (por isso ela se chama Shenda-Lit), pensei num bichão de escala "cósmica", craquento, com montanhas nas costas, voando pelo espaço, controlando o tempo... Na verdade escrevi depois um plot muito melhor pra Dona Shenda-lit!



Na época, eu era o único artista no projeto, além do Frank, que era o Diretor de Arte. Essa colorização foi uma das minhas primeiras experiências com tablet e com cor digital e teve a mão milagrosa do Charles, que me ajudou muito nesse e em vários outros projetos! O Charles nem sabia, mas ainda viria a ser muito importante no ONE!

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